sexta-feira, 11 de março de 2011

"Todos os outros meninos eram corajosos e não se pode criticá-los por recuarem diante do capitão dos piratas. A garra de ferro criava em torno dele um círculo de água parada, da qual os garotos fugiam como peixes assustados.
Entre eles havia um, porém, que não temia o capitão: um que estava pronto para entrar nesse círculo.
Estranhamente, não foi na água que os dois se encontraram. Gancho subiu na rocha para tomar fôlego, e ao mesmo tempo Peter também subiu pelo outro lado. A pedra era escorregadia como vidro molhado, e para escalá-la eles tiveram que rastejar. Nenhum dos dois percebeu a presença do outro. Tateando a rocha em busca de um ponto de apoio, cada um se deparou com o braço do outro. Surpresos, ambos ergueram a cabeça e se viram cara a cara. Assim se encontraram.
Alguns dos maiores heróis confessaram que se sentiram fraquejar pouco antes de entrar em ação. Se Peter também tivesse fraquejado nesse momento, eu diria a vocês. Afinal, o capitão Gancho era o único homem que metia medo no próprio Diabo do Mar. Mas Peter não fraquejou e sentiu apenas uma coisa: alegria. E foi com alegria que rangeu seus lindos dentes. Rápido como o pensamento, arrancou uma faca do cinto do capitão e estava prestes a cravá-la no peito do inimigo quando percebeu que se encontrava num lugar mais alto que ele. Seria desleal de sua parte aproveitar-se dessa vantagem. Assim, tratou de ajudar o pirata a subir até lá.
Foi então que o capitão Gancho lhe deu uma mordida.
O que deixou Peter zonzo não foi a dor, mas a injustiça dessa dentada. Ele ficou sem ação, olhando fixo, horrorizado. Toda criança reage dessa forma na primeira vez em que recebe um tratamento injusto. Tudo o que ela se acha no direito de encontrar quando se aproxima de alguém é justiça. Poderá amar de novo uma pessoa que foi injusta com ela, porém nunca mais será a mesma criança. Ninguém se recupera da primeira injustiça. Ninguém, exceto Peter. Ele muitas vezes a encontrou, mas sempre a esqueceu. Acho que isso era o que verdadeiramente o diferenciava do resto do mundo.
Assim, a injustiça de agora parecia a primeira de sua vida, e ele só conseguia olhar fixo, sem ação..."

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